A computação quântica já não é apenas ficção científica, está a tornar-se uma das maiores promessas tecnológicas do século XXI. Com potencial para transformar áreas como a saúde, a segurança digital, a inteligência artificial e até mesmo a economia, esta nova abordagem à computação está a captar a atenção de investigadores, empresas e governos por todo o mundo.
Mas e Portugal? Que papel está o nosso país a desempenhar nesta revolução? Existe investigação nacional? Há empresas envolvidas? Estão as universidades a preparar profissionais nesta área?
A computação quântica tem vindo a transformar diversas áreas da tecnologia, e uma das suas aplicações mais promissoras está na inteligência artificial. A combinação destas duas áreas — conhecida como Quantum AI permite processar e analisar grandes volumes de dados de forma mais eficiente, abrindo caminho para algoritmos de aprendizagem mais rápidos e precisos.
Este artigo procura responder a essas perguntas, oferecendo uma visão clara e acessível sobre o estado da computação quântica em Portugal o que já existe, os desafios que enfrentamos e as oportunidades que podem colocar o país no mapa da inovação quântica.
Com o avanço dos computadores quânticos, ferramentas como a Quantum AI app estão a surgir para explorar este potencial, oferecendo soluções inovadoras que ultrapassam as limitações da computação clássica.
1 – Introdução ao Conceito de Computação Quântica
Nos últimos anos, a computação quântica deixou de ser apenas um conceito teórico para se tornar uma das áreas mais promissoras e intrigantes da ciência e tecnologia. Apesar de ainda estar em fases iniciais de desenvolvimento, já se fala do seu potencial para resolver problemas complexos que estão fora do alcance dos computadores clássicos. Mas afinal, o que é a computação quântica, e qual é o seu estado em Portugal?
Para percebermos o impacto desta tecnologia, é importante começar pelo básico. A computação tradicional baseia-se em bits, que podem assumir dois estados: 0 ou 1. Já na computação quântica, usa-se o qubit (bit quântico), que, graças às propriedades da mecânica quântica, pode estar em múltiplos estados ao mesmo tempo — um fenómeno chamado super posição. Outro princípio fundamental é o emaranhamento, que permite que dois qubits estejam interligados de forma a que o estado de um dependa do estado do outro, mesmo que estejam separados por grandes distâncias.
Estas características tornam os computadores quânticos especialmente poderosos para resolver tipos específicos de problemas, como a simulação de moléculas complexas, otimização logística, criptografia avançada ou aprendizagem automática. Empresas como a Google, IBM e startups como a Rigetti têm feito progressos significativos nesta área, colocando a computação quântica nas manchetes de todo o mundo.
Mas será que Portugal está a acompanhar esta revolução? A resposta, ainda que moderada, é sim. Embora o país não esteja na linha da frente global, há movimentos importantes a acontecer, tanto na academia como em alguns sectores empresariais. Instituições como o Instituto Superior Técnico, a Universidade do Porto ou a Universidade de Coimbra têm vindo a incluir temas de física quântica aplicada e computação quântica nos seus programas. Além disso, alguns centros de investigação portugueses estão envolvidos em projetos europeus de investigação quântica financiados pela Comissão Europeia.
O panorama em Portugal ainda é recente e algo tímido, mas há sinais encorajadores de que se está a lançar uma base sólida. O interesse por parte de investigadores, alunos e até empreendedores tem aumentado, e iniciativas como workshops, hackathons e grupos de estudo têm começado a ganhar força. O grande desafio será transformar esse interesse inicial em projetos estruturados, com financiamento sustentável, colaboração internacional e aplicação prática.
Neste primeiro bloco, procurámos contextualizar o que é a computação quântica e lançar a base para entender como Portugal se posiciona neste novo capítulo da ciência. No próximo, vamos explorar os projetos, instituições e profissionais portugueses que estão a dar os primeiros passos neste fascinante campo.
2 – Projetos e Iniciativas em Curso em Portugal
Apesar de ainda estar a dar os primeiros passos, Portugal tem marcado presença no campo da computação quântica com alguns projetos académicos e institucionais de relevo. Ao longo da última década, investigadores portugueses têm procurado integrar-se nas redes internacionais de investigação e desenvolvimento, apostando sobretudo na formação e em colaborações com centros de excelência.
Um exemplo significativo é o Instituto de Telecomunicações (IT), que participa em várias iniciativas relacionadas com comunicações quânticas seguras. Este ramo, embora distinto da computação quântica propriamente dita, é uma das aplicações práticas da física quântica e tem beneficiado da infraestrutura nacional de investigação em redes e criptografia. O IT está envolvido em projetos europeus que visam criar infraestruturas de comunicações quânticas à escala continental.
Outro ator relevante é o Instituto Superior Técnico (IST), que integra grupos de investigação em física teórica e quântica aplicadas à informação. Vários investigadores portugueses participam em consórcios europeus financiados pela UE através do programa Horizon Europe e do Quantum Flagship, uma iniciativa que reúne centenas de parceiros em toda a Europa para acelerar a investigação e o desenvolvimento de soluções quânticas.
Nacionalmente, a FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) tem começado a abrir chamadas específicas para propostas na área da computação e tecnologias quânticas, ainda que os montantes e o volume de projetos apoiados sejam modestos quando comparados com outros países europeus. Mesmo assim, esta abertura indica uma vontade de integrar Portugal na rota estratégica do desenvolvimento quântico a longo prazo.
Também é de destacar o papel de startups e grupos de estudantes, nomeadamente através de núcleos universitários como o Quantico Lisboa, fundado por alunos e ex-alunos interessados em investigação aplicada. Estes grupos promovem eventos, debates, leituras conjuntas e, sobretudo, comunicação de ciência acessível, tentando aproximar o público geral dos conceitos e aplicações da computação quântica.
Por fim, importa referir que Portugal tem beneficiado do interesse crescente por parte da diáspora científica, com investigadores portugueses a trabalhar em centros de referência como o CERN, o Fraunhofer Institute ou a IBM Research. Muitos destes profissionais mantêm contacto com universidades portuguesas, orientam teses, participam em projetos ou regressam para impulsionar iniciativas em território nacional.
Ainda há um longo caminho a percorrer até que Portugal tenha uma infraestrutura robusta de computação quântica. Mas os sinais são positivos: há talento, há curiosidade científica, e começa a haver alguma estrutura de apoio institucional. O grande desafio será garantir que estas iniciativas isoladas consigam crescer, cooperar entre si e, acima de tudo, traduzir-se em inovação útil para a sociedade portuguesa.
3 – Desafios e Limitações do Ecossistema Nacional
Apesar do interesse crescente e de algumas iniciativas relevantes, o desenvolvimento da computação quântica em Portugal enfrenta um conjunto de obstáculos estruturais que não podem ser ignorados. Estes desafios vão desde a falta de investimento público e privado até à escassez de recursos humanos especializados, passando pela ausência de uma estratégia nacional clara e ambiciosa para esta área.
Um dos principais entraves é a falta de infraestrutura tecnológica de ponta. Ao contrário de países como Alemanha, França ou Países Baixos, que já dispõem de centros de computação quântica com acesso a máquinas experimentais, Portugal ainda depende quase exclusivamente de colaborações internacionais para aceder a este tipo de hardware. Mesmo universidades e centros de investigação bem posicionados têm acesso muito limitado a computadores quânticos reais, utilizando na maioria dos casos simuladores em nuvem, como os oferecidos pela IBM ou pela Amazon.
Outro problema é a escassez de formação especializada. Embora alguns cursos de pós-graduação comecem a integrar tópicos de computação quântica, a maioria dos programas universitários em Portugal ainda oferece pouca ou nenhuma exposição prática a esta área. Para além disso, faltam docentes com experiência específica em tecnologias quânticas aplicadas — o que cria um ciclo vicioso em que poucos formadores qualificados geram poucos alunos preparados.
Do ponto de vista financeiro, o investimento ainda é tímido. A computação quântica é um domínio altamente competitivo e intensivo em capital. Requer equipas multidisciplinares, acesso a infraestruturas avançadas e continuidade nos financiamentos — algo que raramente se encontra reunido em Portugal. Os fundos europeus têm ajudado a mitigar esta limitação, mas é necessária uma maior aposta do setor público nacional, assim como incentivos ao investimento privado e ao surgimento de startups deep tech.
Outro obstáculo importante prende-se com a falta de sensibilização do setor empresarial. Muitas empresas portuguesas ainda olham para a computação quântica como uma curiosidade académica, distante da realidade dos negócios. No entanto, áreas como logística, finanças, cibersegurança ou farmacêutica poderão beneficiar imenso desta tecnologia num futuro não muito distante. A ausência de ligações entre centros de investigação e empresas representa uma oportunidade perdida para acelerar a transferência de conhecimento.
Por fim, destaca-se a necessidade de uma estratégia nacional integrada. Outros países europeus já lançaram planos nacionais para tecnologias quânticas, com metas definidas e orçamentos alocados. Portugal ainda não o fez. Para que o país não fique para trás, é urgente a definição de uma visão de longo prazo que articule governo, universidades, empresas e comunidade científica, com foco claro em resultados e impacto.
Embora estes desafios sejam significativos, não são insuperáveis. Com vontade política, articulação institucional e foco na formação de talento, Portugal tem todas as condições para construir um ecossistema quântico vibrante e competitivo — mas é preciso agir já.
4 – O Futuro da Computação Quântica em Portugal
Se olharmos para o estado atual da computação quântica em Portugal com realismo, percebemos que ainda há muito por fazer. Mas se olharmos com visão estratégica, também vemos um país com potencial para se afirmar neste domínio — desde que haja coordenação, vontade política e investimento continuado.
A primeira prioridade deverá ser a formação de talento. Criar programas de mestrado e doutoramento focados em computação quântica, física aplicada, ciência de dados quântica e tecnologias associadas é fundamental. Além disso, é essencial começar a introduzir estes temas desde cedo, promovendo o ensino da ciência e da computação de forma acessível e apelativa no ensino básico e secundário.
Outra frente estratégica será a colaboração internacional. Portugal não precisa reinventar a roda — pode e deve integrar redes já existentes, estabelecer parcerias com empresas e centros de investigação de referência, e contribuir com aquilo em que é forte: talento científico, pensamento interdisciplinar e uma comunidade académica cada vez mais conectada globalmente.
A nível institucional, o país beneficiaria muito da criação de um Centro Nacional de Tecnologias Quânticas, que servisse como ponte entre academia, empresas e Estado. Um centro deste tipo permitiria articular projetos, garantir acesso a recursos computacionais remotos (através de parcerias com gigantes como IBM ou Google), fomentar empreendedorismo tecnológico e impulsionar a transferência de conhecimento para o mercado.
Do ponto de vista empresarial, há espaço para startups e spin-offs explorarem nichos específicos, como algoritmos quânticos para otimização, simulações químicas ou criptografia pós-quântica. Estas áreas podem tornar-se oportunidades económicas concretas para um país como Portugal, especialmente se acompanhadas por incentivos fiscais e financiamento para inovação deep tech.
Também se espera que o avanço da computação quântica traga desafios éticos e sociais que exigirão atenção. Por exemplo, o impacto no setor da cibersegurança, que terá de se reinventar perante a capacidade dos computadores quânticos de quebrar algoritmos de encriptação clássicos. Portugal deve preparar-se, desde já, com especialistas e legislação adequada, para enfrentar esse novo cenário.
Importa ainda sublinhar que o papel do setor público será determinante. O Governo pode definir metas claras, incluir a computação quântica nas suas estratégias de transformação digital e garantir que o país não fica à margem desta nova revolução tecnológica. O momento de agir é agora — porque os países que liderarem esta área terão uma vantagem tecnológica e económica enorme nas próximas décadas.
Em suma, o futuro da computação quântica em Portugal está em aberto. Com os passos certos, o país pode deixar de ser um observador periférico e tornar-se um agente ativo, criativo e competitivo neste campo. O caminho será exigente, mas o potencial é imenso. E o primeiro passo, como sempre, é começar.
Considerações finais
Portugal está ainda a dar os primeiros passos no mundo da computação quântica, mas demonstra sinais promissores. Há talento nos centros de investigação, há curiosidade nas universidades e há ligação com redes internacionais de excelência. No entanto, para que esta área ganhe expressão real no país, será essencial apostar em educação especializada, investir em infraestruturas, e — acima de tudo — criar uma visão estratégica a longo prazo.
A revolução quântica não espera. Os países que hoje investirem na formação, na investigação e na colaboração serão os que amanhã liderarão setores críticos da tecnologia e da economia. Portugal tem tudo para estar entre eles — desde que escolha agir agora.